Pedro Augusto Pinho*

Entre as mais evidentes características da pedagogia colonial está o tratamento, a associação de substantivo a determinado adjetivo, repetido com tanta frequência e insistência, por todas as formas de comunicação, que os antagonistas deste poder escravizador, desta ideologia colonial ficam marcados de forma agressiva, humilhante ou repulsiva.

Os Presidentes da República Bolivariana da Venezuela, desde Hugo Chávez, em 1999, são eleitos pelo voto, através de sufrágio universal e direto. A duração dos mandatos é de 6 anos e o presidente pode ser reeleito, depois de referendada pela povo a emenda constitucional de 15 de Fevereiro de 2009. No entanto quer Chávez quer Nicolás Maduro sempre são mencionados como ditadores.

O Reino da Arábia Saudita, onde não há legislativo eleito, é proibida a formação de partidos políticos, a monarquia é hereditária, os direitos políticos, civis e religiosos da população são limitados, não tem seus dirigentes agredidos com a referência de Ditador Salman al-Saud, ou seu herdeiro de “o futuro ditador Mohammed bin Salman”. Ele é sempre o Monarca ou o Dirigente.

Pouparei meu caro leitor dos inúmeros exemplos, para tratar do que é fundamental. Por que isso ocorre? O que está por trás desta e de outras palavras e expressões nesta pedagogia colonial? Da formação, diria melhor da deformação cognitiva.

Um único exemplo, antes de dissecar um atual representante do colonizador.

O Vice Almirante Sergio Tasso de Aquino, que só conheço pelos artigos e me parece um patriota, como a imensa maioria de seus colegas militares, neste 7 de setembro, numa exortação, discorreu sobre os governos pós 1990 como “esquerdistas” e “corruptos”.

Lembrei-me da edição facsimiliar do número 1, ano 1, de “A Defeza Nacional”, que recebi recentemente. No Editorial, da lavra de Bertholdo Klinger, Estevão Leitão de Carvalho e Joaquim de Souza Reis, se lê: “não seria absurdo admitir a hipótese de que o Brasil viesse um dia a encontrar um sério obstáculo às suas naturais aspirações de um desenvolvimento integral” e “o Brasil não poderá verdadeiramente contar senão com as suas próprias forças” (10/10/1913).

E, escrevem aqueles militares, “é preciso não esquecer” a época e o espírito com que se ditaram as ideias e se deram os feitos. “Muito do que nos parece deslocado e anacrônico, foi racional e aceitável a seu tempo, assim como hoje o que nos parece excelente, será criticável amanhã”.

A maioria dos atuais chefes militares, os que se encontram na reserva e dos civis, seus coetâneos, viveram o período denominado “guerra fria”, embora com inúmeras manifestações bélicas ao redor do mundo. Mas a característica daquela época foi a guerra ideológica, com todas as fraudes, mentiras, falsidades que caracterizam as guerras e, ainda mais, naquelas em que o vencedor não ocupa o território do vencido.

A guerra do século XX teve um vencedor, a princípio explícito – na ideologia neoliberal e no fim da história – e logo submergindo para ampliar seu poder além das finanças e da economia.

Neste período submerso atuou com as crises financeiras (2008 foi a décima), para aumentar seu poder econômico, e com organismos, uns mais outros menos públicos, e alguns absolutamente secretos, para que este poder financeiro invadisse todas as áreas da ação humana: política, ciência, tecnologia, ações sociais em geral e, em particular, a pedagogia colonial e a comunicação de massa.

Para estas últimas recuperou os conhecimentos das práticas do Império Britânico (século XIX) e do mundo do consumismo estadunidense (século XX).

Este vencedor refere-se como Nova Ordem Mundial (NWO, da sigla em inglês), mas eu prefiro denominá-lo, abreviadamente, “banca”.

O recente e de certo modo desconcertante discurso do Presidente da França, Emmanuel Macron, nos dá a pista do que serão os próximos passos da banca. Esta fala foi proferida no evento “Semana dos Embaixadores”, em 29/08/2017, e pode ser lida na íntegra e no idioma francês em http://www.voltairenet.org/article197666.html. Nas citações, em traduções livres, procurei, tanto quanto possível, reproduzir literalmente o discurso.

Macron prega uma revivida colonização europeia, pela união francoalemã. Em 1993, com a criação formal da União Europeia (UE), a professora Therezinha de Castro disse a este escriba que ela, a UE, concretizava o sonho de Bismarck, desde a Confederação Germânica, de uma “Europa unida sob a Alemanha”.

Macron, um servidor da Casa Rothschild, das 40 famílias que compõe a banca, orienta a diplomacia francesa a agir, em nome da “sobrevivência do planeta”, da “paz” e da “justiça e liberdade”, para divisão do mundo em duas áreas: dos produtores – o mundo colonizado e pobre  – e dos consumidores – o mundo rico, colonizador, onde estará a UE.

Não tratarei das estratégias econômicas, de resto sobejamente conhecidas pelas invasões europeias e estadunidenses para apropriação das riquezas em todo mundo. Vou me dedicar à posse das almas – a difusão ideológica, as ações no âmbito da cultura, a comunicação e a comunicação de massa e a pedagogia – que garantirá a aceitação e, até mais do que isso, o desejo de ser colonizado.

Neste novo estágio de domínio universal da banca não é mais necessária a ação camuflada, a corrupção de poderes, em especial os jurídico, parlamentar e midiático, pelo mundo.

É o momento de dar naturalidade às ações, de mostrar a derrocada dos Estados Nacionais como um inevitável passo do processo civilizatório. E é isso que constitui esta fala do trono de Emmanuel Macron.

Inicia afirmando que a França, e daí todas as nações, precisam “rever radicalmente o modo como foram governadas nos últimos 30 anos” e ter a consciência de que o mundo se transformou, que não há espaço para fronteiras sem a “renúncia à história”. Em outras palavras, os Estados Nacionais são os novos dinossauros, um resquício de um mundo de guerras e disputas, que a nova conformação em nações civilizadoras e nações escravas é a inevitável marcha da história.

E, assim, a segurança entra no discurso. Mas que segurança? “A estabilidade do mundo, uma independência que obriga rever a soberania, a defesa de bens comuns universais”.

Escrevendo sobre o conceito do direito, alertei à importação, entre nós, das ideias de Karl Larenz sobre o “direito justo”. O que é o direito justo? É a negação do direito como “norma de conduta e organização” que refletem a cultura de uma sociedade. É a mundialização da justiça, que um poder extranacional imponha, obviamente na defesa desta colonização. Quem estudar a história da Índia, ou a permanência das Ordenações Filipinas no Brasil, pode ter uma pálida ideia do “direito justo”, da segurança de Macron.

Mas esta ideia vai mais longe. Hoje não é segredo que as Primaveras Árabes, a Irmandade Muçulmana ou o Estado Islâmico (EI) foram criações dos serviços secretos do Reino Unido (UK) e dos Estados Unidos da América (EUA). E o terrorismo é um dos instrumentos da banca para destruição dos Estados Nacionais e para influir nas eleições europeias.

Cabe mencionar mais um uso de palavras que criam ideias depreciativas. O primeiro-ministro David Cameron, discursando em dezembro de 2015, usou a palavra Daesh para se referir ao EI. Em árabe, o som “daesh” é pejorativo; lembra “dahes” que significa “aquele que semeia discórdia”.

Voltemos a Macron. Esta paz, concita “a fazer da luta contra o terrorismo islâmico a primeira prioridade da política externa”. E onde se dá esta luta? Na Síria, Iraque, Líbia e no Sahel (região subsaariana que vai do Atlântico ao Mar Vermelho), isto é, nas regiões ricas em minérios e petrolíferas fora do domínio da banca que vão se transformando em terras de ninguém.

A este propósito recordem a intervenção armada da França no Mali, em 2013. O Mali é o terceiro maior produtor de ouro e já vinha sofrendo sucessivos ataques das potencias ocidentais. O filme independente de 2006, “Bamako”, de Abderrahmane Sissako, encenou um falso julgamento improvisado do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial (WB) e dos interesses ocidentais, mostrando os efeitos devastadores do ajuste estrutural no Mali. (http://artthreat.net/2007/04/bamako-film-puts-the-world-bank-on-trial-and-wins/).  Em 2012, com apoio dos EUA, houve um golpe de estado levando o Presidente Amadou Toumani Touré à fuga para o Senegal.

O Mali é forte candidato a se tornar outra Líbia, outro Iraque. Mais um exitoso caso de paz (!).

Como a interferência da Rússia impediu que a Síria se tornasse um Iraque, Macron propõe um diálogo “com os Turcos, os Iranianos e os Russos” para “avançar concretamente” no conflito sírio. Mostra assim, nem tão implicitamente, a inclusão dos curdos no processo de desestabilização do Oriente Médio.

Na continuidade da “luta contra o terrorismo”, Macron entra no “regime de não proliferação nuclear”, exatamente assim, sem a inclusão de armas, na expressão.

Todos sabemos que as soberanias nacionais exigem o integral controle e o conhecimento das quatro tecnologias chaves deste século: nuclear, informática, aeroespacial e energética. O Presidente Geisel já se empenhava neste empoderamento brasileiro, hoje em processo de total aniquilamento pelos golpistas de 2016.

Volto às expressões colonizadores. Quem lê ou ouve nuclear, só pensa em armas, na bomba. E mesmo as pessoas mais instruídas e informadas. Ninguém pensa que a saúde, o tratamento de doenças, o diagnóstico, estão fortemente dependentes de equipamentos, conhecimentos e pesquisas nucleares. Idem para diversos produtos e serviços do cotidiano de todos nós, como na alimentação, no uso correto, produtivo e rentável do solo.

E Macron promete “uma firmeza implacável sobre a aplicação” do regime da não proliferação do conhecimento nuclear.

Em relação aos fluxos migratórios, que vem assombrando a Europa, Macron não se intimida. Cria a política dos “três D: Defesa, Desenvolvimento e Diplomacia”, ou seja, o controle dos ingressos estrangeiros de acordo com a necessidade de mão de obra ou da contenção salarial de operários europeus. Nem se camufla na citação da ação francesa na África. Um ponto de saudade da África Ocidental Francesa ou da Argélia.

A educação, como é óbvio e indispensável na colonização, também está nesta fala de Macron. E a classifica como “uma alternativa ao fundamentalismo e ao obscurantismo”, ou seja, nenhum respeito às culturas, às diferenças civilizatórias. Educação é doutrinação, como bem conhecemos neste país “essencialmente agrícola”, de nossa risonha e franca escola primária; e onde os brasileiros eram brancos, logo os escravos não eram brasileiros, nem gente.

Mas há uma contradição aparente neste discurso. No mundo sem fronteira, regido por um “direito justo” – onde prevalece a paz, a segurança ou os cuidados com a segurança, e a proteção do planeta, a preocupação ecológica – Macron distingue o universo francófono.

Quando enuncio os objetivos da banca, sempre lembro que a permanente concentração de riqueza e de poder está presente em suas estratégias, ao lado da apropriação de todos os ganhos de todos os sistemas de rendimento: industriais, comerciais, de serviços, exploração mineral e da natureza, etc.

Nesta aparente contradição, Macron deixa entrever que o sistema francoalemão disputa com o angloamericano a prevalência na banca, no seio deste domínio planetário. Não é no mundo “multipolar”, que adjetiva como “instável”, onde se digladiam “interesses particulares”. É no mundo fechado do capital financeiro, que se combate pelo poder.

E, assim, ele trata do Brexit, com “duas reflexões essenciais”. A Europa é mais do que um “mercado” e se deve pensar em seus “diversos formatos”. E quais seriam estas ações inovadoras? Alterar o mercado de trabalho, abrindo-se para novos atores econômicos, “não respeitando solidariedades coletivas”. Em outras palavras, extinguindo ou reduzindo ao máximo as ações sindicais e onde se identifique qualquer corporativismo. À banca tudo, aos demais apenas o suor do trabalho.

Foi um longuíssimo discurso, onde não faltou a condenação de radicalizações ideológicas, como se a religião de Mamon fosse menos ideológica, radical e cruel.

Macron convida a traçarem “um novo modelo de civilização”. Isto o levaria ao hospício, de onde tantos paranoicos escaparam, para infelicidade dos homens e da natureza. Mas Macron é agente da banca e espera e trabalha para que o sistema financeiro domine o mundo, talvez com menos do que 40 famílias.

Este é o verdadeiro desafio do nosso País; manter o Estado Nacional Soberano, unindo todos brasileiros, nacionalistas e patriotas.

*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado