Pedro Augusto Pinho*

O grande evento deste início do ano no Brasil é o julgamento do ex Presidente Luis Inácio Lula da Silva, pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre.

O verdadeiramente kafikiano, dentro de uma peça de Ionesco, é que não há crime para que ocorra este julgamento. Não pensem os caros leitores que estou fazendo a defesa de quem quer que seja. Apenas analiso a questão com a ótica da pretensa racionalidade.

Abriu-se um processo – hoje de conhecimento de todos, pelo interesse dos Estados Unidos da América (EUA), do qual trataremos adiante – para julgar a corrupção política usando a maior empresa brasileira: Petrobrás.

Havia e há o nítido interesse em demolir a Petrobrás e criminalizar o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Presidente Lula, em especial.

Apesar de todas as pressões e investigações, que tiveram início ainda em 2003, com o denominado Mensalão, nenhum fato, nenhum documento, nenhuma prova, judicialmente aceita, colocou o nome do Lula em causa.

Apenas, para usar a palavra de Promotor do Ministério Público Federal (MPF), “convicção”. E, com base em convicção foi atribuído um apartamento em Guarujá, São Paulo, mesmo com certidão contrária do Registro de Imóveis e com a hipoteca à Caixa Econômica Federal, ao Presidente Lula.

Seria, dentro desta convicção, o pagamento por ganho ilegítimo proporcionado pelo Presidente Lula à OAS, segundo denúncia do empreiteiro Léo Pinheiro.

Mas se o apartamento não está no nome de Lula nem de qualquer outra pessoa, senão da própria construtora do imóvel, e, ainda mais, hipotecado à instituição financeira, é preciso muita volta para chegar a esta relação ilícita. No processo não se encontra qualquer indício da ilicitude.

Logo este julgamento do TRF-4 nada mais é do que uma farsa. Mais uma farsa com que o judiciário nos brinda, com propaganda do Sistema Globo de entretenimento, de outras emissoras de rádio e televisão e de publicações, além do já referido apoio dos órgãos de Estado dos EUA.

Há duas vertentes que devem ser examinadas neste caso.

A primeira, muito bem analisada pelo grande sociólogo Jessé Souza, diz respeito à elite que governa o Brasil desde 1822. É uma classe escravagista, que odeia o pobre, o preto e os próprios brasileiros, tem seus olhos unicamente voltados para o exterior, e mantém o País na ignorância, pelo domínio da comunicação de massa e, o que é extremamente danoso, pela pedagogia colonial, desde cedo instalada na mente dos brasileiros.

A segunda diz respeito ao interesse dos EUA no petróleo brasileiro e na extinção da Petrobrás.

É preciso que o prezado leitor tenha com clareza um conhecimento sobre a energia. Não é preciso dizer da importância da energia no mundo industrial ou pós industrial. Ela esteve acompanhando as transformações da sociedade e sendo usada conforme a disponibilidade e necessidade das nações mais econômica e militarmente desenvolvidas.

Veja o prezado. A revolução industrial começou na Inglaterra que dispunha de carvão. E foi exatamente o carvão o principal insumo energético até que os EUA entraram na disputa. E qual energia primária dispunha os EUA? Petróleo. Até 1925 os EUA foram autossuficientes em petróleo. O que ocorre então? Firma-se, em 1928, uma divisão do mundo entre as sete maiores petroleiras de então – cinco estadunidenses (Exxon, Mobil, Texaco, Gulf e Chevron, nomes mais recentes) – o Acordo de Achnacarry.

Hoje, quando se discute a energia limpa, a poluição atmosférica, o efeito estufa, sabem qual as duas maiores fontes produtoras de energia primária no mundo? Isto mesmo: petróleo e carvão.

Não é meu objetivo, nesta artigo, discorrer sobre energia, mas sobre o interesse na Petrobrás – a empresa de maior know how mundial em exploração e produção de petróleo em águas profundas e ultra profundas – que descobriu a única nova província petrolífera nos últimos quarenta anos: o pré-sal.

O petróleo começa a rarear na Península Arábica, onde as petroleiras estadunidenses tem o domínio e, como agravante, o petrodólar, que vem garantindo a moeda estadunidense, começa a ser substituído por outras moedas, em especial o yuan chinês. Junte a redução das reservas no mundo árabe e a ameaça à moeda e terão a extraordinária importância da Petrobrás para a geopolítica dos EUA.

A Lava Jato surgiu, portanto, dos dois interesses: desta elite, que Darcy Ribeiro chamava de cruel e capaz, e da geopolítica dos EUA, para controlar nosso petróleo e defender sua moeda. Uma vez que o Mensalão não atingiu estes objetivos.

Mas o leitor imagina que a maioria da população brasileira tem este discernimento? Claro que não. Recebo alarmado, a notícia de que a presença de três cubanos, talvez até antiFidel, em turismo no Rio Grande do Sul, foi associada à guerra civil que o julgamento do Lula desencadearia, e – oh! Céus! – contaria com ajuda dos terroristas islâmicos. Quando todos os jornais estrangeiros já nos informaram que o Serviço Secreto Britânico (MI6) e a Agência Central de Inteligência estadunidense (CIA) são os principais financiadores e mentores do “terrorismo muçulmano”.

Haja mente perversa e colonizada para demolir o Brasil!

*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado