Por Tom Farias | Folha de S. Paulo – Foto Reprodução

A primeira leitura que fiz dos livros de Wesley Barbosa foi a partir do romance “Viela Ensanguentada”, logo após o seu lançamento, pela Ficções, em 2022. De lá para cá, tenho lido suas obras com certa frequência e acompanhado seus bem-sucedidos passos como autor, especialmente nos eventos literários, dentro e fora de São Paulo.

Wesley Barbosa é o tipo de escritor que empreende sua literatura, por onde passa e circula. Está sempre interagindo, conversando, expondo ou vendendo suas obras, com grande êxito nessa função.

No caso de “Viela Ensanguentada”, de certa forma me vi no personagem do Mariano, protagonista do romance —um ser apaixonado pelos livros de uma biblioteca municipal. Quando me iniciei no mundo da leitura, ainda um leitor em formação, também me apaixonei pelos livros deixados pelo meu pai, morto quando eu tinha de nove para dez anos —idade próxima do garoto da história.

Na minha casa, como na maioria das casas de gente pobre suburbana, livros em geral eram vistos mais como objetos de decoração do que de leituras. Mexer ou abrir um livro era quase um ato de sacrilégio —sob a advertência de “não estragar”. No entanto, os livros deixados pelo meu pai, não só os manuseei muito como também os li alucinadamente. Fui uma espécie de Mariano às avessas, desde aquela época.

Lendo o novo romance de Wesley Barbosa, “Pode me Chamar de Fernando”, publicado agora pelo seu próprio selo, Numa Editora, recordei o tempo emocional da leitura dos primeiros livros, quando passei a me fascinar com o contato com a escrita e as histórias contadas através de personagens e suas aventuras. Cedo também fui um escritor precoce —escrevia diários e arranhava poesias.

Wesley Barbosa traz consigo um jeito nobre de contar suas histórias —é coloquial e lírico ao mesmo tempo. Há nele sugestiva fabulação nos enredos, que lidam com ambientes humildes, pessoas simples, gente da favela, que são, todas, carregadas da esperança de viver.

O personagem central de “Pode me Chamar de Fernando”, cujo nome dá título ao livro, é um menino negro e pobre, com histórico de pai bêbado e violento, que vive a dor de não saber quem é a mãe. As pistas deixadas pelo autor dão conta de que se trata de uma prostituta, outra é que ela teria morrido no parto da criança —agora um moleque franzino com cara de fome.

O pai de Fernando, Vicente, é aquele homem curtido pela dureza da vida. A maior parte da história está desempregado e fazendo biscates, ou sendo despejado por não pagar o aluguel dos barracos onde reside com o filho, a quem se nega a perfilhar.