Por Redação – Foto Globo

A atriz Léa Garcia morreu na manhã desta terça-feira (15), aos 90 anos. Léa estava no Festival de Gramado, para receber o Troféu Oscarito pelo conjunto de sua obra. A morte da atriz foi confirmada nas redes sociais por familiares. “É com pesar que nós familiares informamos o falecimento agora na cidade de Gramado no @festivaldecinemadegramado da nossa amada Léa Garcia”.

Léa foi levada para o hospital da cidade após sofrer um infarto agudo do miocárdio no hotel onde estava hospedada.

A carioca Léa Lucas Garcia de Aguiar estreou nos palcos aos 19 anos de idade, na peça “Rapsódia Negra”, de Abdias do Nascimento. Foi o intelectual e criador do Teatro Experimental do Negro (TEN quem viu seu talento quando a conheceu no ponto do bonde, em 1950, na praia de Botafogo.

Em 1956, esteve no elenco da peça “Orfeu da Conceição”, de Vinicius de Moraes. Ela também participou do filme “Orfeu Negro”, dirigido pelo francês Marcel Camus um ano depois. Sua atuação rendeu-lhe uma indicação ao prêmio de interpretação feminina no Festival de Cannes.

Léa esteve no elenco de sucessos da TV Globo como “Selva de pedra”, de Janete Clair, exibida em 1972, e “Escrava Isaura”, adaptação de Gilberto Braga para a obra de Bernardo Guimarães, no ar em 1976. Nesta novela, fez sua primeira vilã e sofreu represálias na rua.

Na TV, a primeira novela de Léa foi “Acorrentados”, de 1969, na Record. Antes disso, participou de programas como “Grande Teatro”, da TV Tupi, e “Vendem-se Terrenos no Céu”. Sua estreia na TV Globo aconteceu em 1970, em “Assim na Terra como no Céu”, obra de Dias Gomes.

“Escrava Isaura é o meu cartão de visitas. Tive muitas dificuldades em fazer cenas de maldade com a Lucélia Santos. Eu me lembro de uma cena em que, quando a Rosa (personagem de Léa) acabou de fazer todas as perversidades com a Isaura, eu tive uma crise se choro, me pegou muito forte. Chorei muito, não com pena, mas porque me tocou”, disse Léa ao site “Memória Globo”.

Nos anos 2000, participou ainda de “O Clone”, em 2002, novela de Glória Perez na TV Globo; “A Lei e o Crime”, em 2009, de Marcílio Moraes para a Record; a série do Globoplay “Assédio”, em 2018, escrita por Maria Camargo, entre outras participações. No dia 25 de agosto, entra no ar no Canal Brasil “Vizinhos”, um de seus últimos trabalhos.

Léa estava cotada também para participar do remake da novela “Renascer”, de Bruno Luperi, baseada na obra de Benedito Ruy Barbosa, que estreia depois de “Terra e paixão”, no horário das 21h da TV Globo.

Reconhecimento
Foram mais de 30 participações no cinema, entre curtas e longas-metragens, que renderam a Léa prêmios nacionais e internacionais. Além da indicação como melhor atriz do Festival de Cannes com “Orfeu negro”, seu primeiro filme, a carioca foi eleita melhor atriz, inclusive pelo júri popular, do Festival de Gramado por “Filhas do vento” (2005), de Joel Zito Araújo. Gramado a premiou novamente com menção honrosa do júri pelo curta “Hoje tem Ragu”, de Raul Labancca, em 2008, e em 2013 como melhor atriz de curta-metragem por “Acalanto” (2012), de Arturo Saboia, baseado num conto de Mia Couto. Este mesmo curta lhe rendeu o prêmio de melhor atriz no Brazilian Film Festival of Toronto, no Canadá. Seu último filme foi “Barba, Cabelo & Bigode” (2022), da Netflix, dirigido por Rodrigo França.

Ao lado de Ruth de Souza, de quem era grande amiga, e de Zezé Motta foi, sem dúvida, uma das maiores artistas negras do cinema e TV nacional. E uma das vozes — até o fim da vida — que mais denunciou o racismo no meio artístico.

—Conversava sobre isso com a Ruth (de Souza). Passamos por muitas exigências. Tínhamos que chegar com o texto na ponta da língua, estar sempre cheirosas e elegantes. As outras podiam errar. Nós, não. Podíamos interpretar personagens subservientes, mas precisávamos mostrar que nós não éramos. Naquela época, o racismo era camuflado na TV. Por causa da minha formação, tinha credibilidade — disse a atriz ao GLOBO.

Léa Garcia tinha voltado aos palcos
No ano passado, para comemorar 70 anos de carreira, voltou aos palcos, onde tudo começou, e estrelou o espetáculo “A vida não é justa”, dirigido por Tonico Pereira, e baseado no livro homônimo em que Andréa Pachá relata episódios de sua experiência como juíza de uma Vara de Família. Léa interpretava três personagens, um deles chamado Molhadinha25, que traía virtualmente o marido.

— Ultimamente, tinha virado atriz de dois personagens só. Me chamavam para fazer mãe preta ou mãe de santo. Está sendo agradável sair desse olhar estereotipado, que coloca a mulher negra idosa num determinado tipo de representação. Essas, agora, são simplesmente mulheres — disse a atriz ao GLOBO em julho de 2022.

Reportagem do O Globo