A grande lei da casa

Por José Vinicius Garcia Rodrigues

Quando se divide uma casa

Conforme a gente aprendeu

Exige um respeito ao outro

E ao espaço que recebeu

A harmonia só se dispersa

Quando um dos lados começa

Querer mais do que se é seu

Os bichos da floresta

Organizam todo ano

Um tribunal que se julga

Do saruê ao pelicano

Mas diferente dos iguais

Esse ano os animais

Julgariam o ser humano

O bicho homem respondia

Por crime de avareza,

Desmatamento da flora,

Por deixar a fauna presa,

Caçar, matar, ter maltratado

E por isso foi julgado

Pela nossa mãe natureza

O homem em sua defesa

Diz de modo que enfurece:

“Injurias equivocadas

Não é cruel como parece

Desculpe cortar sua asa

Mas a grande lei dessa casa

É que o mais forte prevalece

Luto sempre por liberdade

Do pequeno e do gigante

Sou amigo dos animais

Do jacaré, do elefante

Sou muito fã da oncinha

Mas já não é culpa minha

Sua pele ser tão elegante

A caça é esporte

Não é pra saciar sede

Os bichos são tão bonitos

Enrolados em minha rede

Eu não acho nada de mais

Eu amo tanto os animais

Que até os tenho na parede”

Foi escolhido o macaco

Conforme a terra queria

De conduzir acusações

No papel de promotoria

Aceitando tal ofício

O macaco deu início

E em seu discurso dizia:

O planeta pede socorro

O solo vive com fome

É planta que não germina

É mais uma espécie que some

Nas águas dos rios tem lixo

Na mata não se vê bicho

Por conta do bicho homem

É um descaso com a vida

Ignorar o que se passa

Tantos animais sumindo

Por conta da tua caça

E sou obrigado a dizer

Tenho vergonha de saber

Que já fomos da mesma raça

Rouba, explora desmata

Escraviza e invade

Não é você mesmo que diz

Lutar pela liberdade?

Pra mim soa até cômico

O fato de ser tão irônico

Você ter inventado a grade

Queres ser dono da terra

Mas esquece do parelho

Esquece que somos carne

Esquece que somos espelho

Nós também sentimos dor

Fome, frio ou calor

Eu também sangro vermelho

Nisso um imenso estrondo

No horizonte foi ouvido

A terra se estremeceu

O céu avia se aberto

Depois de muita espera

Finalmente então a terra

Chegara a um veredito

“O mundo não lhe pertence

diferente do que tu pensa

Tu eres um mal pra se próprio

Não existe pior sentença

Se seu prazer é matar

Boa sorte ao aguentar

A sua própria presença

Seu futuro é seu passado

Não há como escapar

Tudo isso que constrói

A te próprio matará

Por que o que veio do pó

Sem mudança e sem dó

Ao pó sempre retornará”

 

Dia 03

Por Alan Smithee (Rita de Cássia Bonfim Moura)

E no dia 3, sem alarmes ou alardes, ela se foi

De pés descalços

À meia luz, das 18h da tarde de verão, ela se foi

Colocou a melhor roupa

Dançou para as sombras

Brincou

Disse para que a aguardassem, pois o fim do lado B do vinil estava por chegar

Fez um forte chá, tão açucarado como a vida que lhe fora prometida

E se foi

Sem prantos, ela se foi

Sem que ninguém tivesse a convencido a ficar, ela se foi

Derramou a última lágrima às 18h27, assim que a agulha deixou o labo B do vinil.

E se foi. Ela se foi.

Eu estive aqui

Por Elena (Ellen Camilly Santos Soares)

A dor consegue
Se disfarçar
Se fantasiar
E se tornar
Mestra de dias
O sol passou por mim
E o luar da lua deixou a noite escura
E faça esse sol
Ou pingue qualquer chuva
Não sinto nada !
Furtaram-me os dias
Meus janeiros e dezembros
Todas as coisas que lembro
Roubaram tudo
E atiraram-me ,pois sangro
E agora vivo e afogo nesse rio
E meu sangue tem mais gosto de lágrimas que de ferro
Há sirenes tocando e estão vindo
Mas antes que as luzes se apaguem
Eu queria
Eu queria sentir de novo !
Mas tocar as mãos frias e sem vida de quem amei
Levou todo o meu sentimento
Eu não pude te salvar…
Eis o assalto
Escuto a sirene violenta
Minhas entranhas provocam um riso
Que erro sorrir
Riso de jovem desvairada
Entranhas vivas tentando salvar o mundo
E os seres humanos seguem
Seguem sendo covardes bestiais
Mas corri léguas
Com esse pulmão sangrento
Apenas pra salvar o mundo de sí
De nós covardes bestiais
Oh céus
As sirenes chegaram
Pois vejo a vermelhidão
Drummond dizia que “o mundo é de cimento armado “ .
Não é!
O mundo é vidro
E quebrou com meu grito
Quando fui levada pela sirene
Eu estive aqui
Diga aos jornalistas
Escreva aos folhetins
Por favor
Eu estive aqui
Eu estive aq…
Eu estiv…
Eu es…
Eu…
E…

..

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