Por Luiz Fernando Lima / Conjuntura Atual

Imagem: Divulgação TSE

A pesquisa Datafolha divulgada nesta quarta-feira (24) traz uma série de dados interessantes para o retrato do momento deste início oficial de disputa pelo governo baiano. O levantamento foi contratado pela Rádio Metropole e ouviu 1008 eleitores entre os dias 22 e 24 de agosto.

O candidato do União Brasil, ACM Neto, lidera as intenções de votos em todos os cenários modulados pelo instituto de pesquisa, seguido pelo postulante do PT, Jerônimo Rodrigues, e em terceiro aparece João Roma (PL). Giovani Damico (PCB), Marcello Millet (PCO) tiveram 1%, e Kleber Rosa (Psol) não pontuou na rodada.

Neto tem 54% da preferência dos entrevistados, o que o coloca em condições de vencer a peleja no primeiro turno. Jerônimo aparece com 16%, enquanto Roma pontua 8%. Os percentuais não estão

distantes dos identificados pelo último apontamento do Paraná, divulgado em 16 de agosto. Nele, o ex-prefeito foi a escolha de 53,5%, já o petista teve uma pequena oscilação para baixo, tinha 18,2%. Roma caiu mais, foram três pontos para baixo.

Se recuarmos um pouco mais, na fotografia de julho, realizada pela Genial/Quaest, Neto manteve a ponteira, mas caiu. Naquele levantamento, o postulante tinha 61% da preferência. O ex-secretário estadual da Educação tinha 11% e Roma 6%. Este cenário com o ex-prefeito de Salvador liderando é o mais comum e apresenta uma tendência inquestionável de que existe aí uma largada com ampla vantagem.

História

Contudo, engana-se quem pensa que a eleição se resolve de véspera. A Bahia apresenta histórico de “virada” nas pesquisas que merece análise. Na linha escrita pelo jornalista Franciel Cruz no Twitter, é possível identificar os casos recentes que atestam a máxima do futebol de que o jogo só termina quando o juiz apita.

Para resgatar: em agosto de 2006, o senador Jaques Wagner, então candidato ao governo estadual, aparecia na pesquisa do antigo Ibope, hoje Ipec, com 16% das intenções de votos, Paulo Souto, seu adversário tinha 52%. No final, o petista venceu no primeiro turno com 52,89% dos votos válidos.

Em 2010, na disputa pela reeleição, o petista liderava com 45% frente a 23% de Paulo Souto, venceu com 63,38% dos votos. Aumentou a diferença entre agosto e outubro.

Já em agosto de 2014, um pouco conhecido Rui Costa estava à beira de um enorme precipício quando o levantamento constatou que o petista tinha 15% das preferências e Souto marcava 44%. Os 29 pontos que os separavam foram superados e Rui foi escolhido por 54,53% dos eleitores baianos.

Em 2018, a celeuma entre os adversários facilitou a vida de Rui Costa e ele venceu com mais de 15% dos votos. José Ronaldo (UB) não conseguiu fazer frente ao governador bem avaliado na ocasião. Agradeço a Franciel por facilitar a vida de quem compila (e neste copia) dados.

Estes dados servem para contextualizar a pesquisa divulgada hoje, mas não comprovam ou determinam resultado de eleição. Apenas confirmam aquilo que a história já registrou, eleição não se ganha antes. É preciso muito trabalho para convencer o eleitor de sair de sua casa em um domingo, encarar fila e votar neste ou naquele candidato.

Espontânea

Outro dado interessante na pesquisa Datafolha é a medição da escolha espontânea. Neto tem 27% destas intenções de votos. Um número relevante, contudo, ele é conhecido por 92% dos eleitores. Ele tem, em tese, metade do caminho trilhado para vencer a eleição e precisa convencer 23% mais 1 de eleitor a votar nele. Sendo que estes eleitores já o conhecem e não decidiram votar no ex-prefeito ainda.

Não é simples, até porque o começo da campanha na rádio e TV terá impacto, sobretudo, naqueles eleitores que admiram e reproduzem o voto Lula. Candidato de Lula, Jerônimo não é conhecido por 61% dos eleitores. O petista aposta suas fichas em Lula e aí vai bater nesta tecla até não poder mais.

Ainda neste segmento, o levantamento identificou que 42% dos entrevistados afirmam que, com certeza, votarão no candidato indicado por Lula. Outros 21% responderam que talvez seguissem o líder petista. A rejeição a Lula, distribuída em proporcional medida entre Roma e Neto, é de 34%.

Relevância

Diferente de muitos que torcem o nariz para pesquisa, a depender do que a foto apresenta no primeiro plano, penso que os levantamentos são fundamentais no que se refere ao momento e à tendência. Apoia a tomada de decisão dos candidatos e muda o rumo de uma campanha.

Para além, citando o sociólogo Antônio Lavareda, os estudos acerca da influência direta da divulgação das pesquisas não são conclusivos. “Uma linha que vai desde o suposto efeito bandwagon, traduzindo jocosamente com ‘maria vai com as outras’…até, na outra ponta do espectro, as que apontam um movimento de natureza diferente, um deslocamento ‘compensatório’, na direção de candidatos que a pesquisa mostram não ter grande chance de vitória. Um voto orientado para o underdog, para o ‘azarão’”.

Por enquanto, é isso. O cenário é Neto liderando, mas o resultado final é desconhecido.

Em tempo: o início tão antecipado desta corrida eleitoral deixou o processo tão exaustivo quanto este enorme texto. Os candidatos e marqueteiros precisam se virar para trazer novidades para a maratona.